7 de dezembro de 2021

As Lições de OMICRON

Detectada pela primeira vez há apenas um mês, a variante Omicron foi rapidamente foi elevada à categoria de preocupante (VOC) pelo elevado número de mutações, incluindo uma somatória de mutações encontradas nas outras quatro variantes de preocupação, e uma dezena de novas mutações que ainda não sabemos o impacto. Se permitirmos ao SARS-CoV-2 se dividir, ele tem o potencial de gerar mutações, porem poucas delas o tornarão mais apto a sobreviver. As variantes Alfa, Beta e Gama carregaram mutações que conseguiram prosperar entre inúmeras variantes que surgiram, mas mesmo as três já foram substituídas no mundo todo, inclusive no Brasil, por uma variante mais “competente”, a Delta. Omicron tem muitas mutações possivelmente porque se originou em um lugar aonde a vacinação plena ainda pouco avançou, e por efeito de tratamentos que “mordem, mas não matam” o coronavirus, como o uso de plasma de convalescentes, dando oportunidade para que prosperem novas variantes.

A comoção mundial que Omicron causou demonstrou que precisamos manter e melhorar ainda mais nossos sistemas de vigilância epidemiológica molecular e que países que investirem continuamente nesta tecnologia ganharão tempo para se proteger. Omicron também ensinou que barreiras sanitárias não podem se resumir a impedir a entrada de pessoas de meia dúzia de países. Testagem lá e cá, exigência de vacinação plena e quarentena, tem que andar lado a lado se queremos efetivamente reduzir a circulação de variantes entre países. E vacinar todos, pois como ensina o pesquisador em imunopatologia molecular Bruno Filardi, “Mesmo que uma vacina seja menos eficaz e produza resposta imune parcial, isso é suficiente para diminuir a replicação do vírus durante a infecção dando tempo do nosso sistema imune se preparar e responder de forma mais robusta. Por isso não se espera com Omicron grande perda de imunidade contra formas graves da doença. Nosso sistema imune reconhece centenas de regiões diferentes do vírus, tanto por via de anticorpos quanto pela imunidade celular. Se adquirirmos um vírus com muitas mutações, ainda assim o reconheceremos”.

Em suma, as vacinas atuais, bem mais do que  quem já teve COVID, vão nos proteger do mais importante, doença grave e morte. Porém o maior aprendizado que Omicron já trouxe é que nunca voltaremos a ter nossas vidas normais se não olharmos nosso planeta como um todo. Omicron reencarnou o sentido da palavra “equidade”, tratar de modo diferente aqueles que são diferentes, para que todos tenham no mínimo o básico. Talvez o medo de Omicron consiga transmitir esta mensagem de forma mais contundente. Países ricos reservaram o triplo de doses de vacinas necessárias para suas populações, e já estão planejando a quarta dose da vacina, enquanto 90% dos africanos não receberam nenhuma dose ainda. Omicron escancara uma mensagem antiga, mas cada vez mais atual e verdadeira; se queremos um planeta mais saudável e mais justo para nós e para as futuras gerações, só se a grande maioria tiver acesso ao básico, incluindo o acesso às vacinas. Importante ressaltar que como “acesso” se subentende bem mais do que a disponibilidade dos imunizantes, mas também infraestrutura física e de recursos humanos para armazená-los, transportá-los e disponibilizá-los. E promover educação vacinal para que as pessoas aceitem ser vacinadas, o que deve começar pelo bom exemplo dado pelos líderes. Erros históricos tem consequências a longo prazo e intangíveis; o continente africano foi por várias vezes palco de abusos de todo tipo, e é fácil compreender o descrédito desta população em relação as vacinas. Mas ninguém estará seguro da COVID-19 enquanto todos não estiverem seguros. Que as lições de Omicron gerem profunda reflexão, e sejam transformadas em ação para equidade vacinal!

Artigos Relacionados

Feito sob medida para Genetika