30 de junho de 2022

Entenda casos de Parkinson precoce

Esta semana Renata Capucci, jornalista do “Fantástico”, revelou publicamente que tem Doença de Parkinson (DP). Além da exposição do tema que só uma figura pública como Renata atinge, chamou muito a atenção que os primeiros sintomas nela surgiram aos 45 anos, visto que 90% são diagnosticados com mais de 50 anos. DP é uma das condições neurodegenerativas mais frequentes, atingindo cerca de 2% da população mundial. Até 1997 pouco se conhecia sobre as causas da DP, até que o Dr. Mihael Polymeropoulos e sua equipe identificaram uma rara alteração genética que, de forma herdada e transmissível através das gerações, levava ao desenvolvimento da DP várias pessoas de uma família italiana.

Em 1993 dois trabalhos publicados como parte de uma colaboração científica franco-brasileira que tivemos a oportunidade de participar, identificaram pela primeira vez casos hereditários da DP em três famílias brasileiras. Os pacientes brasileiros eram acompanhados pela equipe do Dr. Helio Teive, Neurologista do Hospital das Clinicas da Universidade Federal do Paraná, e tinham em comum o fato de terem iniciado a doença muito precocemente; um com apenas 11 anos, outro com 16 anos (estes dois com uma forma juvenil de DP) e o terceiro com 45 anos. Neles foram encontradas mutações no gene PRKN, que hoje sabemos são responsáveis por cerca de 10% dos casos de início precoce, de herança recessiva, o que significa que os pais dos pacientes carregam a alteração genética, mas não apresentam sintomas. Hoje já são conhecidos mais de 20 genes envolvidos com as formas genéticas da DP, e sabemos que quanto mais cedo é o início da doença, maior a chance de ter uma mutação em PRKN; 42% em quem inicia antes dos 20 anos, 29% iniciando entre 21 a 30 anos, 13% entre 31 a 40 anos, e somente 4% entre os diagnosticados entre 41 a 60 anos. Identificar uma causa genética em um pessoa com DP não apenas explica a causa ajudando as pessoas a lidar melhor com o diagnóstico, mas fornece informações específicas sobre o curso clínico por comparação com outras pessoas com a mesma forma genética, trazendo informações sobre o prognóstico e personalizando os cuidados. Além disto propicia Aconselhamento Genético e permite o acesso à pesquisa focada em formas genéticas específicas da DP. Apenas uma pequena fração dos casos de DP são determinados unicamente por erros genéticos, mas conhecer o gene que está mutado e a proteína que deixa de funcionar adequadamente, pode dar pistas também sobre a causa dos casos mais comuns da DP. Se a proteína produzida pelo gene PRKN não cumpre seu papel, toxinas se acumulam nos neurônios com o passar dos anos, destruindo-os e reduzindo a produção de dopamina. Isto poderia explicar porque apesar do gene estar mutado até antes do nascimento, DP só aparece com o passar do tempo. Este conhecimento pode ser a base para tratamentos e até uma futura cura da doença, alavancada pela Medicina de Precisão, usando medicamentos projetados para atingir a raiz da DP de maneira específica para cada indivíduo. isto porque talvez a DP não seja uma entidade única, mas sim uma mistura de diferentes doenças com consequências semelhantes, e sendo assim, seria  improvável que um único tratamento seja eficaz para todos os pacientes. Recentemente surgiram ensaios clínicos com terapias direcionadas ás diferentes formas genéticas de DP e há grande esperança. È importante ressaltar que nem todas as situações aonde mais de uma pessoa na familia tem PD são hereditárias, visto que a alta prevalencia da DP pode levar, por acaso, a presença de mais de uma pessoa afetada em uma mesma família. E nem todo caso de DP de início precoce é genético. Mas nestas situações o acompanhamento médico conjunto e personalizado, por neurologista e geneticista, é fundamental.

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