10 de agosto de 2022

Hepatite em crianças: Qual a causa?

Ainda não se sabe qual a causa de mais de 250 casos de hepatite grave em crianças predominantemente menores de 5 anos de idade, diagnosticada em mais de 20 países nas últimas semanas. A principal hipótese implica um tipo de Adenovírus (41F) que associado a um cofator estaria tornando graves infecções que historicamente são leves por adenovírus. Este cofator poderia ser a) uma suscetibilidade devido à falta de exposição prévia durante a pandemia; b) uma infecção anterior com SARS-CoV-2 ou outra infecção, incluindo um efeito restrito à Omicron; c) uma coinfecção com SARS-CoV-2 ou outra infecção; d) uma toxina, droga ou exposição ambiental. Existem outras hipóteses; Uma nova variante de adenovirus; Um novo patógeno agindo sozinho ou como uma coinfecção; Uma nova variante do SARS-CoV-2. Eu acredito numa Síndrome pós-infecção por SARS-CoV-2, restrita a variante Omicron, talvez deflagrada por Adenovirus, de modo direto ou ou indireto. Indiretamente pela baixa exposição que crianças tiveram às viroses em geral nos últimos dois anos e a rápida exposição nos últimos quatro meses.

Diretamente, me baseio nos seguintes argumentos; 1)Não acho que seja simples coincidência que este número grande de casos esteja acontecendo bem no momento da pandemia por Omicron; 2)Casos estão sendo detectados em inúmeros países de vários continentes, diminuindo a chance de um agente ambiental ou tóxico; 3)SARS-CoV-2 tem predileção pelas células do fígado, demonstrado por análises em biópsias hepáticas; 4) Em casos desta hepatite em Israel 11 das 12 crianças tinham tido COVID-19 nos últimos quatro meses; 5)O fato de que pelo menos 75% das crianças com esta hepatite não terem sido sequer vacinadas para COVID-19, até porque ainda não há vacina disponível para esta faixa etária (lembrando que os casos até o momento são predominantemente em menores de 5 anos de idade); 6) O  Adenovírus 41F não foi detectado em todas as crianças investigadas e não aparece no fígado das crianças norte-americanas que necessitaram de transplante de fígado, mas houve aumento expressivo de co-infecção por SARS-CoV-2 Adenovirus justamente nos últimos 5 meses; 7) Este tipo 41F nunca foi associado com hepatite grave em crianças saudáveis, e cerca de 10% dos casos atuais são graves a ponto de necessitarem transplante de fígado e ao menos 4 foram a óbito; 8) SARS-CoV-2 foi detectado no momento da hepatite em 18% dos casos ingleses, comparado com uma prevalência atual de 5% a 8% entre crianças inglesas entre 2 a 6 anos de idade no período entre março e abril de 2022. Mas então porque as crianças infectadas por SARS-CoV-2 em 2021 e 2022 não tiveram esta hepatite? Talvez seja algo relativo especificamente à Omicron ou um efeito a médio ou longo prazo de infecção por outras variantes, ou um cofator atual pode ter deflagrado o quadro. O fato de que muitas crianças nesta idade já foram infectadas pelo coronavirus e já tem anticorpos dificulta a definição se SARS-CoV-2 está implicado.

É fundamental identificar a causa para tomar medidas preventivas adequadas. Se realmente se concluir quer é uma Síndrome pós-infecção por SARS-CoV-2, restrita a variante Omicron há que acelerar o início da vacinação de crianças menores de 5 anos de idade. A recente identificação de casos na Argentina mostra que o Brasil precisa estar alerta, e está. O Ministério da Saúde acompanha 7 casos prováveis, três no Paraná e quatro no Rio de Janeiro. Enquanto isso, os pais devem estar atentos aos sintomas de hepatite, incluindo náuseas, vômitos, dor de barriga, urina escura, amarelecimento da pele ou dos olhos, febre e cansaço. A causa desta hepatite ainda não é conhecida, mas o a ação necessária por parte dos pais é clara: procurar atendimento médico imediato se aparecerem sinais da doença.

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