15 de setembro de 2021

Os adolescentes devem ser vacinados?

Vinte milhões de adolescentes brasileiros passarão a ser imunizados com a vacina da Pfizer. Tenho recebido muitas perguntas de pais. – A vacina é necessária para meus filhos adolescentes? -Há riscos para eles? -Qual a principal preocupação? Por um lado, nestes jovens a COVID-19 apresenta um risco substancialmente menor de formas graves de doença, hospitalizações e mortes. Por outro, é justamente nesta faixa etária que é mais frequente um dos raros efeitos adversos da vacina da Pfizer, a Miocardite (uma inflamação no músculo cardíaco), ocorrendo em cerca de 63 casos a cada um milhão de segundas doses de vacina de RNAm, em geral após a segunda dose aplicada em meninos de 12 a 17 anos. Nas meninas desta idade o risco é bem menor, estimado em 8 casos por milhão de segundas doses aplicadas. Dados dos EUA, Canadá e Israel, países que já administraram a vacina da Pfizer para esta faixa etária em milhões de pessoas, demonstram que Miocardite pós-vacina realmente é mais comum nesta idade, mas bem cerca de 30 vezes mais rara do que a Miocardite causada por COVID-19 na mesma faixa etária.

Recente análise conduzida pela ACIP (Advisory Committee on Immunization Practices), órgão responsável pelas recomendações de vacinação nos EUA, comparou os riscos e os benefícios oferecidos pela imunização com as vacinas de RNAm (Pfizer e Moderna) em adolescentes de 12-17 anos no contexto epidemiológico americano, e a conclusão foi que os benefícios da vacinação (prevenção de casos, hospitalizações e mortes) superavam em muito os riscos (ocorrência de casos de Miocardite) em todos os grupos etários em que a vacinação está recomendada. Importante destacar que os casos de Miocardite observados por efeito adverso das vacinas de RNAm para COVID têm sido quase sempre muito menos graves do que aqueles causados pela COVID-19, necessitando menos dias de internamento, só 1,5% dos casos chegando a necessitar de UTI, praticamente todos os casos até então registrados não deixando sequelas e sem uma única morte confirmada em crianças.

Mais de 30 países já vacinaram cerca de 10 milhões de jovens entre 12 a 17 anos. Reino Unido hesitou inicialmente, mas decidiu também vacinar todos a partir de 12 anos. Contextualizando para a realidade brasileira, cabe lembrar que assim como para muitas outras doenças pediátricas, mesmo sem levar em conta a subnotificação de casos, a taxa de mortes por COVID-19 em crianças brasileiras é cerca de 7 vezes maior do que nas norte-americanas e 15 vezes maior do que nas inglesas. Mesmo com números de óbito bem menores, foi aprovada a vacinação de adolescentes nos EUA e no Reino Unido. A Síndrome Inflamatória Multisistêmica, uma das principais complicações da COVID-19 em crianças, tem uma taxa de letalidade cerca de 4 vezes maior no Brasil do que nos EUA. E COVID-19 é responsável no Brasil por uma fatia da mortalidade das crianças, maior que todas as outras doenças preveníveis por vacinas, juntas.

Por fim, a variante Delta, que já é prevalente em vários lugares no Brasil, ao infectar mais, aumenta o número de casos também em crianças, em especial se estas não estiverem vacinadas. Este impacto maior da COVID-19 na população pediátrica do Brasil não pode ser ignorado. Some a estes argumentos outros problemas de saúde que crianças com COVID-19 podem ter, como as intercorrências em internamentos, a própria Miocardite por Covid-19, a Covid-19 longa, o fato da vacinação permitir um retorno mais seguro às escolas e até maior proteção dos adultos que tem contato com as crianças, e a balança pende para o lado da vacinação de adolescentes. Por fim, entendo que seria menos arriscado se pudéssemos aplicar em adolescentes uma vacina de vírus inativado, como a Coronavac. Uma lástima que esta não tenha atendido a todas os pré-requisitos da ANVISA.

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