31 de outubro de 2021

Sorte ajudou a evitar catástrofe da Delta

Detectada pela primeira vez na Índia em outubro de 2020, a variante Delta do Coronavirus logo se demonstrou ser bem mais transmissível do que as anteriores. Rapidamente se sobrepos à Alfa e isto levou a novas ondas de COVID-19 em muitos países como Índia, Inglaterra, EUA e Israel. No Brasil, os primeiros casos foram confirmados em abril de 2021, época em que poucos brasileiros tinham sido plenamente vacinados, já se sabia que a proteção para Delta é bem mais eficiente apenas após a vacinação completa.

O potencial de alta transmissibilidade da Delta, a falta de informação fidedigna sobre a prevalência dela no Brasil, a baixa cobertura vacinal plena e a pressão por flexibilização das medidas de isolamento físico pareciam ser os ingredientes necessários e suficientes para que a Delta rapidamente causasse uma nova e terrível onda de COVID no país. Porém, o impacto devastador da Delta não se confirmou, e todos os indicadores da pandemia estão melhorando. Por que a Delta aterrissou, mas não decolou no Brasil? A resposta certa ainda não se sabe, mas existem hipóteses; 1) Diferenças biológicas entre as variantes. Pode ter ocorrido uma vantagem evolutiva da Delta menor sobre a Gama do que sobre a Alfa, tornando a velocidade de progressão da Delta menor por aqui, aonde o predomínio absoluto era da Gama e não da Alfa. Em outros países aonde a presença da Gama era bem menor do que no Brasil, a briga evolutiva da Delta com a Alfa foi fácil e rapidamente vencida. Por aqui a Delta acabou vencendo, mas bem mais lentamente; 2) Influência de imunização natural. Quando a Delta chegou ao Brasil, estávamos no pico da catastrófica “onda Gama”, e é possível que quando Delta se tornou preponderante no Brasil, uma parte relevante da população já tinha sido exposta não só à variante da primeira onda, mas também recentemente à Gama, e talvez parcialmente adquirido proteção temporária contra qualquer variante; 3) Vacinação. A vacinação avançou a partir do final de abril e agora que Delta é a variante mais prevalente, metade de toda a população brasileira já está plenamente vacinada incluindo adolescentes, sendo que idosos e profissionais de saúde já recebem até a dose de reforço. Ter avançado na vacinação antes do início da queda da imunidade gerada pela colossal “onda Gama”, pode ter contribuído para proteger da Delta. Cabe no campo das hipóteses lembrar um possível efeito surpreendente da única vacina “diferente” usada em países aonde a Delta não decolou (Brasil, Chile e Uruguai), e não utilizada nos países em que a Delta fez enormes estragos (EUA, Reino Unido e Israel), a Coronavac! Teria a “Geni das vacinas” um efeito protetor sobre a Delta maior do que se imagina, evitando reinfecções e novas infecções em pós-vacinados? 4) Manutenção das medidas não farmacológicas. Devido ao devastador impacto da “onda Gama”, comportamentos como o uso de máscaras ainda eram vigentes no Brasil no momento em que a Delta chegou, diferente de outros países que já haviam flexibilizado estas medidas achando que a “onda Alfa” seria a última; 5) Intervalo entre doses das vacinas. No Brasil adotamos (por falta de vacinas) até recentemente o intervalo longo entre doses, que hoje está comprovado ser o mais eficiente para proteger da Delta.  É provável que nenhuma hipótese citada seja suficiente e que mais de uma tenha sido necessária para explicar como a “inevitável” catástrofe da Delta foi evitada. Apesar de que a pandemia de Coronavirus ainda não acabou, e que com o vírus circulando não estamos livres de novas variantes da Delta, tudo indica que a Delta original não vai decolar por aqui, e assim um número enorme de vidas foram e serão salvas. Aparentemente, tivemos mais sorte que juízo!

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